quarta-feira, 9 de maio de 2012

Palestra do professor Gilvan Fogel na UFRRJ

No último dia 07/05 teve lugar, no auditório Paulo Freire (ICHS), a palestra do professor Gilvan Fogel(UFRJ) intitulada: "Niilismo e superação da metafísica". A palestra foi uma iniciativa do grupo de pesquisa NOÛS- Estudos de hermenêutica filosófica e de história da filosofia e contou com a participação de alunos e professores do curso de filosofia da UFRRJ. O tema da palestra remetia diretamente à filosofia de Nietzsche e à problemática da desvalorização dos valores superiores da cultura Ocidental, precisamente o que foi chamado por ele de niilismo. De certa maneira, esses valores (unidade, finalidade, verdade) representariam uma espécie de revolta contra a vida naquilo que ela possuiria de mais próprio: o ser sempre e necessariamente esforço, aparência e incompletude. Tais valores, levados à sua exarcebação pela ciência e pela técnica modernas, acarretariam, fatalmente, um enfraquecimento da vida enquanto dinâmica criadora.  É nesse sentido que o professor Gilvan chegou a afirmar que "a interiorização é a doença do homem". Por interiorização está se entendendo aqui a dinâmica de afastamento e de ensurdecimento do homem em relação ao imperativo de auto-superação ditado pela própria vida, que é em si mesma "vontade" de auto-exposição, aquilo que os gregos chamaram de PSYCHÉ. A vida não está em nosso poder. Não somos nós os seus autores e, por isso, não podemos dispor dela ao nosso bel prazer. Pelo contrário, é a vida mesma, enquanto essa dinâmica de auto-exposição, que dispõe de nós e nos permite vir a ser o que somos. É junto com e a partir desse imperativo de ser que se pode falar de realidade. Não há e não acontece realidade alguma para aquele que já não esteja vivendo desde essa dimensão. Para a planta e para o animal, por exemplo, não acontece realidade. Com isso, não se pretende dizer que somente o homem é real, mas antes, pelo contrário, que o acontecer do real ele mesmo é inseparável do acontecer de homem. Por isso, segundo o professor Gilvan, "o homem é a hora e o lugar de toda a realidade possível". É por ter esquecido esse acontecimento fundamental que a metafísica acaba por desenvolver-se historicamente como niilismo. Quer me parecer que foi neste ponto da palestra que surgiram, ao mesmo tempo, a maior dificuldade e o maior desafio de compreensão colocados pelo professor. Afinal, como o homem poderia ser a hora e o lugar de todo real possível sem ser ele mesmo o autor da própria realidade, algo como um substituto do Deus cristão? Para o professor Gilvan, no entanto, não se trata em absoluto de algum tipo de antropomorfismo ou antropocentrismo, que aliás, segundo ele, seriam característicos da metafísica da subjetividade da Época Moderna. Nietzsche, ao contrário, estaria se confrontando exatamente com essa tradição. Que as coisas se passem desse modo fica evidente quando se lembra que, para Nietzsche, é a arte o contra movimento em relação ao niilismo e à metafísica. Na arte mostra-se exemplarmente que o sentido  não é nunca alguma coisa que se deixe localizar em algum lugar aquém ou além do próprio fazer. No fazer do artista genuíno aparece que o sentido está todo ele no fazer e apenas no fazer. Ora, diríamos nós, mas o fazer não é o produto da minha vontade e decisão? Não sou eu quem decide, autonomamente, como bem salientou a filosofia moderna, agir ou não agir, sendo inteiramente responsável por isso? De forma alguma, nos diz Gilvan Fogel, ao menos no nível radical da ação criadora que é, por princípio, o fazer da arte. Nesse nível ou dimensão, não é o homem, enquanto indivíduo, quem decide fazer ou não fazer, mas a própria coisa a ser feita impõe a sua presença a partir de si mesma. O homem, no caso em questão, o artista, é que seria muito mais um resultado tardio, embora constitutivo, do próprio fazer criador, daí não poder colocar-se a si mesmo que "autor" da própria ação. Neste caso, em lugar da autonomia da vontade, que se realiza historicamente no empenho de controle e asseguramento técnicos de todo o real, teríamos uma disponibilidade confiante para o que se manifesta a partir de si mesmo e que se envia como tal em uma ação necessária. Não que isso signifique a transformação de toda ação em fazer artístico, no sentido de um esteticismo. A ação é que a cada vez permite o aparecimento singular e imprevisível do homem e do próprio real. Não seria isso justamente a superação da metafísica enquanto esforço de disponibilização do real e do próprio homem? Apostamos que sim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário